sábado, 26 de maio de 2018

“De perto ninguém é normal”- Quem é o "louco" ?



                                                                                                                                    Cláudia Maria Tamaso

Completamos 31 anos da Carta de Bauru. Um dos marcos da Luta antimanicomial.
Sob influência de algumas linhas teóricas a reforma psiquiátrica brasileira consolidou-se em meio ao processo de redemocratização do pais, em meio a movimentos sociais, dos trabalhadores da saúde juntamente com seus usuários.
Dentre as correntes teórica encontramos: (1) o de reformulação da gestão do hospital psiquiátrico e suas técnicas de tratamento, como a Comunidade Terapêutica; (2) o de desmonte do modelo hospitalar, com a criação de serviços substitutivos e (3) o de crítica radical e ruptura ao funcionamento hospitalar e da reestruturação dos novos serviços propostos, por considerar um novo projeto de medicalização e normalização da sociedade, por meio da Antipsiquiatria (Ronald Laing e David Cooper) e da Psiquiatria Democrática Italiana (Franco Basaglia).
A Lei Paulo Delgado (Lei 10.216/2001) foi um marco fundamental na luta antimanicomial. Contudo, mas toda essa cultura que exclui a pessoa em sofrimento mental, dos moradores dos hospitais psiquiátricos requer toda uma rede de atendimento, organização de vários setores, inclusive da comunidade. A comunidade precisa acreditar na desinstitucionalização.
Contudo, não basta o desmonte dos hospitais psiquiátricos, mas há que fornecer retaguarda, apoio ao paciente psiquiátrico e sua família. Há que ter um robusta rede de atenção psicossocial.
“Entende-se a atenção psicossocial como referencial ético, teórico e político do movimento da reforma psiquiátrica no Brasil e, ainda, como um modo de cuidado que leva em conta o contexto social e institucional da política.” (Cayres et all, 2015)
Há que ter articulação entre diversas instâncias, entre órgãos intersetoriasis.
É preciso mudar o foco, não mais dirigir-se à cura, mas o sofrimento daquele ser humano e seu laço social. Recriar a sociabilidade e enfrentar o estigma da loucura.
Há que trabalhar, apoiar, acolher a família que, em nossa cultura hospitlocêntrica é destituída dos cuidados com a pessoa em sofrimento mental e, na maioria das vezes, não está preparada para apoiá-lo. Enfim, ainda, vemos as instituições totais, referidas por Goffman.
Tive oportunidade de participar como entrevistadora no Censo de 2014 de moradores de hospitais psiquiátricos e encontramos 4.439 indivíduos aguardando que seus direitos fundamentais sejam garantidos.
“Cerca de 70% dessa população está internada há pelo menos 10 anos e é composta por pessoas que viveram um terço ou mais de suas vidas dentro de um hospital psiquiátrico” (Cayres et all, 2015).
A família não deve ser somente um instrumento de identificação da loucura, mas como a provedora de cuidados e a que também os requer.
Há que dar oportunidade para que paciente e família sejam cidadãos sem qualquer tipo de coerção, além de suas forças.
"É preciso estar atento e forte....."
#psicologianaveia
@psicologianaveia

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