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ocê sabia que 15 de julho é o dia do Homem ?
Como a questão de gênero é relacional abordaremos a masculinidade em relação à feminilidade. Portanto, o masculino somente pode ser compreendido em relação ao feminino e vice-versa.
O conceito de masculinidades foi proposto na Austrália pela socióloga Raewyn Connell (1993).
CARRIGAN, CONNELL e LEE (1985) criticaram extensivamente a literatura sobre o “papel sexual masculino” e propuseram um modelo de masculinidades em múltiplas relações de poder. Não há consenso no que se refere à compreensão e aceitação do conceito, mas ultimamente implica em uma combinação da pluralidade das masculinidades e a hierarquia entre masculinidades.
Segundo Connell, a masculinidade sofre influências históricas e depende e uma relação entre o indivíduo que busca encarnar esses valores masculinos e os demais membros da sociedade -incluindo as mulheres.
Com as revoluções industrial e sexual o ser mulher transformou-se, deslocando o homem de seu lugar, que teve que de modo desafiador ajustar-se constantemente.
E nessa dança, nesse movimento, por vezes, o homem não enxergava o seu lugar, o seu papel, emergindo o que pode-se denominar “crise de masculinidade”.
Ambra acredita que a crise de masculinidade dá-se, principalmente, no seio de sociedades que encontram-se em um nível civilizatório na qual as mulheres gozam de maior liberdade e o homem tem maior dificuldade em adaptar-se. Diante de tal transformação emergem os mal-estares sintomatizados em obesidade, dependência de substâncias e jogos eletrônicos, comportamentos transgressores, suicidas e no baixo rendimento escolar em garotos.
Vale comentar, ainda, que muitas crenças e valores adentram à nossa mente, interferindo em nossas ações e, muitas das vezes, trazendo-nos sofrimento. O próprio homem arca com as consequências das crenças de que homem não chora, tem que ser forte dificultando a validação do medo e de outras emoções, que são inerentes ao humano, têm sua importância filogenética, ou seja, são necessárias à sobrevivência. Vemos também muito sofrimento na vigorexia, um transtorno no qual a imagem corporal é deturpada, o sujeito potencializa seus defeitos estéticos ou até mesmo defeitos que ela imagina possuir, a preocupação frequente e excessiva leva à prática demasiada de exercícios físicos, com prejuízo da vida acadêmica, profissional e dos relacionamentos afetivos e sociais.
Em suma, o mito da supremacia, do poder falocêntrico está sendo desconstruído em meio ao contexto contemporâneo no qual vivemos, no qual o masculino é somente um dos atores da trama. Desse modo, vejo sentido e concordo com a leitura social feita por Faludi que refere que vivemos em uma sociedade alienante tanto para homens como para mulheres. Diante desse prisma o método para compreendermos a desigualdade de gênero perpassa por vê-lo como um entre vários outros indicadores das nossas posições na sociedade. Dentre eles: cor, religião, raça, saúde física e mental, idade, escolaridade e condições socioeconômicas.
Sob esse enfoque não poderia ser compreendido sem surpresa e susto o fato de mulheres oprimidas, homossexuais apoiarem ideias, concepções conservadoras?
Do mesmo modo, entendo positivo os homens participarem ativamente das causas e movimentos femininos.
É preciso lembrar, os indicadores de feminicídio no país em 2017, isto é, crime motivado pelo fato de a vítima ser mulher, que são alarmantes, resultando em 946, apesar da Lei Maria Penha ter sido homologada há mais de 12 anos.
Para que a boa lei Maria da Penha reverta-se em resultados efetivos em redução nos índices de violência contra a mulher há que romper com o ciclo vicioso desse tipo de violência.
Para isso a mulher há que refletir sobre sua função nessa relação abusiva e transmutar-se.
Meu posicionamento enquanto profissional da psicologia sempre foi no sentido de que a violência de gênero precisa ser enfrentada em várias frentes, inclusive pelo trabalho a ser desenvolvido com grupo psicoterapêuticos, psicoeducativos ou de apoio para os homens.
Aí a Psicologia encontra seu campo, ou seja, que a família tome conhecimento de seu funcionamento e descubra alternativas para o mesmo.
Com base na compreensão contextualizada de masculinidades, de que o feminino somente faz sentido em relação ao masculino em vez de travarmos uma guerra dos sexos por que não encontrarmos, então, não mais o homem ou a mulher, mas o ser humano? O que deseja a mulher? O que quer o homem? Qual o caminho para o amor?
Quantos sangues misturados de “casais” ainda vamos ver?
Perguntas ainda instigantes, não? Por vezes, não teriam o homem e a mulher o mesmo objetivo? A felicidade, o prazer advindo do real encontro com um outro sujeito? E a arte do encontro requer um outro diverso, não à sua própria imagem narcísica, um outro não objetalizado. Amar implica em um outro não sangrando, não mutilado, mas por inteiro.
Para finalizar deleite-se com a música de Gilberto Gil, para todos homens e mulheres.....
REFERÊNCIAS:
CARRIGAN, T.; CONNELL, R. W.; LEE, J. “Toward a New Sociology of Masculinity.” Theory and Society, v. 14, n. 5, p. 551- 604, 1985.
CONNELL, R. W.,”Masculinities”.1993
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